segunda-feira, 22 de junho de 2015

A CURIOSA HISTÓRIA DE KASPAR HAUSER


Em síntese, o filme "O Enigma de Kaspar Hauser" relata a vida de um jovem que esteve durante 15 anos, aproximadamente, enclausurado sobrevivendo a pão e água com ajuda de um homem misterioso que possivelmente seria seu pai. Hauser não sabe sequer andar e falar. A suspeita é de ele pertence a família real de Baden e foi roubado para que a sucessão do trono não lhe fosse dada. Quando o misterioso homem resolve inseri-lo na sociedade, simplesmente o abandona em praça pública com um bilhete na mão destinado para o oficial da guarda explicando sua história e sua possível descendência real, portando um terço e um livro com orações católicas.

O filme nos leva a questionarmos e analisarmos a capacidade de pensar por ter como exemplo alguém com comportamento diferenciado da maioria das pessoas e com enorme dificuldade de desenvolver a comunicação. Por Kaspar Hauser não se comunicar de modo igual a sociedade em que está inserido, abre-se então um leque de questionamentos em torno das possibilidades de comunicação utilizadas pelo personagem. Entre eles, os principais questionamentos, a meu ver, são: Como se dá a comunicação? O que justifica o comportamento de Kaspar Hauser?

Tudo o que é diferente dos costumes da sociedade onde estamos inseridos acaba se tornando estranho e, por vezes, pode representar ameaça, porém, não para Kaspar Hauser. O jovem não esboçada nenhum tipo de reação nas mais diversas situações, chegando a ser tratado como um indivíduo totalmente fora dos padrões, e de fato o era. Na Alemanha Ocidental, onde ele viveu, chegou a ser tratado como uma aberração e levado para ser atração de circo. Kaspar Hauser torna-se objeto de estudo por conta de seu comportamento e por não se adequar aos moldes da realidade da época.

Baseando-se na prerrogativa de que nossa formação é construída e alicerçada totalmente a partir das relações sociais, é inevitável relacionar o filme a questões psicológicas. A psicologia, como ciência que estuda profundamente acontecimentos como o relatado na obra, poderia explicar o caso de Kaspar Hauser apontando o meio em que ele viveu como agente importantíssimo na formação de seu comportamento.

Até seus 15 anos de idade, Hauser viveu em uma espécie de calabouço, aquele era o seu mundo. A importância de viver em sociedade nos levar a crer que a comunicação e o desenvolvimento das habilidades intelectuais se dão, em grande parte, pela imitação dos que nos rodeiam. É fato a inteligência de Hauser, mas outros aspectos o impediram de compreender, totalmente, o ambiente em que ele passou a viver por conta da dificuldade de aprendizado que o impedia de fazer associações de signos e significados, obviamente por não ter experiência e conhecimento de mundo o suficiente para relacionar pensamento a objeto.
O filme, cujo título significa, em tradução literal, "Cada um por si e Deus contra todos", é uma grande obra na qual podemos abordar inúmeros aspectos sociais e psicológicos. O próprio título sugere a divisão da sociedade valorizando o individualismo e consequentemente desfavorecendo o personagem principal que fora privado de se desenvolver de acordo com costumes de uma sociedade.

domingo, 21 de junho de 2015

RADIADORA DO MOREIRA: PRECURSORA DO RÁDIO ITAPAJEENSE



Fevereiro/2015 - Homenagem a Moreira

    Um documento digitado na boa e velha máquina de datilografia descreve parte da história de Francisco Moreira Sousa, um morador ilustre do município de Itapajé, interior do Ceará, que ficou popular por causa da sua radiadora.
     
     Moreira, como era conhecido, nasceu em 09 de maio de 1907 e faleceu em 24 de junho de 1992. Neste intervalo conseguiu deixar sua marca e registrar na memória do povo Itapajeense seu espírito de empreendedor e comunicador.

   Quando sequer havia energia elétrica, Moreira adquiriu um motor que foi usado até que a cidade fosse beneficiada com o sistema elétrico. O equipamento servia tanto para a radiadora como para o próprio município. 
     Usando um sistema de som simples instalado na principal praça da cidade e com estúdio nas proximidades, denominado por ele de Studio Royal, Moreira virou celebridade de sua época e hoje é considerado o pioneiro da radiodifusão no município. Ele não foi o precursor apenas do rádio, mas do movimento cultural da cidade de Itapajé.

     Antes mesmo da grande mídia desenvolver estratégias de marketing para a venda dos seus produtos e serviços, um apaixonado por comunicação já tinha suas táticas. Na radiadora do Moreira tudo era notícia, desde a divulgação do comércio local a serviços de utilidade pública, como registros de aniversários, moças que fugiam de casa e até notas de falecimento que eram sempre precedidas da canção Il Silenzio, de Nini Rosso , que era entoada a qualquer hora do dia ou da noite fazendo toda a cidade parar, aflita, para saber quem havia falecido. Populares relatam que esta era uma das principais marcas da famosa Radiadora do Moreira.

Anúncios fúnebres tinham a marca da canção Il Silenzio, de Nini Rosso





Ao som de Teixeirinha cantando "Parabéns", Moreira felicitava os aniversariantes do dia.


    A mudança de pensamento e cultura por ele estimulados, foram de grande valia para que a sociedade Itapajeense da época começasse a ter contato com algum veículo de comunicação e ter discernimento do sistema de interlocução que já vinha acontecendo. Iniciava-se aí, mesmo que timidamente, um processo de tomada de consciência sobre o poder que a mídia pode exercer em determinados grupos. 

     Com o passar dos anos e avanço das tecnologias, vivenciamos as mais diversas formas de manipulações vindas dos meios de comunicação, sejam elas subjetivamente nas propagandas que estimulam ao consumo ou ainda através dos "Líderes-comunicadores" como relata Luiz Beltrão em sua tese de doutorado¹ (1965), na qual uma fonte transmite a informação, que neste caso pode ser representado como os meios de comunicação de massa, para a audiência, onde estão os líderes de opinião que vão repassar a mensagem a partir das suas experiências, cultura, costumes e claro, opinião. 

     A ideia de Francisco Moreira Sousa, foi apenas o primeiro indício das transformações das formas de comunicação e transmissão de ideologias naquela pequena cidade. A partir daí o ato de comunicar-se foi se tornando mais democrático até se transmutar no que é hoje. A realidade de Itapajé foi utilizada apenas para exemplificar o que ocorreu em todos os lugares do mundo, cada um com suas peculiaridades, obviamente. 

As imagens a seguir foram gentilmente cedidas pela Secretaria de Cultura do município de Itapajé. Como os leitores podem verificar é uma entrevista que Francisco Moreira de Sousa concedeu a um repórter pela fato de seu veículo de comunicação local ter adquirido fama e credibilidade.













¹ Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo





sábado, 20 de junho de 2015

PUBLICIDADE INFANTIL

Hoje, a tecnologia está em todos os lugares e nas mais variadas formas. A substituição de brinquedos feitos à mão por apetrechos tecnológicos aproxima as crianças de uma publicidade onde os pais não têm acesso e consequentemente controle. Ocorre a queima de etapas importantíssimas para o crescimento e desenvolvimento impulsionando a criança ao consumo.
A mensagem que chega ao público infantil pode trazer danos gravíssimos e perdurar por toda a vida, como a erotização precoce, obesidade infantil, consumo precoce do tabaco e álcool e banalização da agressividade e violência, no entanto, o mais preocupante é a naturalidade com que todas essas transformações vão acontecendo, tanto na cabeça das crianças como na cabeça dos pais, que são os principais responsáveis.
Não adianta trazer um discurso de julgamento contra a mídia e a publicidade voltada para o público infantil, sendo que responsabilidade de criação e educação é dos pais. Cabe única e exclusivamente aos responsáveis impor limites e participar diretamente da vida das crianças. Se existe uma ausência dos pais na educação dos filhos então não é válido responsabilizar a mídia pelos danos causados as crianças que passam horas diante de uma TV. 
A exposição exagerada aos meios de comunicação leva a criança a absorver mais conteúdo desnecessário e cria o desejo de consumir implantando a ideia de que ela ficará mais feliz se possuir determinado objeto. Quando esses desejos são negados os pais tornam-se os vilões da história. Ao invés de levarem seus filhos a um parque ou fazer alguma atividade física ou lúdica que estimule a inteligência e criatividade, levam os pequenos a shoppings ou locais semelhantes, onde é vivenciada a superficialidade ao extremo em um ambiente altamente consumista em que tudo é planejado pensando no “homem cliente” e não no ser humano.

É importante o contato dos pais no processo de crescimento dos filhos, pois os valores familiares são distintos dos valores de grupo, que muitas vezes são os que predominam e definem o caráter da criança. Mesmo que as tecnologias e as atribuições do dia a dia encaminhem os pais a terem um lar artificial onde tudo pode ser substituído por algo mais prático, porém, menos saudável. É fundamental a presença e a orientação dos pais, somente assim pode-se evitar que as crianças tornem-se alienadas e vítimas de um consumismo desregrado e de pais tão consumistas quanto.

terça-feira, 9 de junho de 2015

RESENHA CRÍTICA: DOCUMENTÁRIO UM LUGAR AO SOL, de Gabriel Mascaro


Imagem do documentário "Um lugar ao sol", de Gabriel Mascaro
   A principal temática do documentário "Um lugar ao sol", de Gabriel Mascaro, é a desigualdade social. A abordagem de Mascaro chama a atenção por trazer um ponto de vista totalmente diferente do que a maioria das pessoas costumam ver, literalmente.
        Com auxílio de um livro que cataloga a elite do Brasil, Mascaro conseguiu identificar 125 moradores de coberturas. Entretanto, apenas nove toparam participar do documentário. O trabalho mostra o ponto de vista de cada morador sobre como é viver em uma cobertura.
        A desigualdade fica evidenciada em um discurso de uma moradora, que reside próximo ao Morro Dona Marta no Rio de Janeiro, sobre as trocas de tiros: "É lindo! A gente tem fogos quase que diariamente... meio trágico, mas muito bonito!". Inconscientemente a moradora protagonizou uma cena que pode ser descrita como parte da realidade do Brasil. Classes totalmente distintas vivendo lado a lado, onde os mais favorecidos simplesmente "assistem" ao espetáculo da problemática da violência e acham "lindo".
        Os participantes veem a cidade como algo distante, e de fato é, não geograficamente, mas buscando distanciamento dos problemas urbanos. Não foi por acaso que escolheram morar em uma cobertura simplesmente pelo conforto e status, mas para fugir da violência e insegurança, ou até mesmo do barulho dos carros ou das panelas na cozinha como uma das entrevistadas relatou.
        Sobre a busca por coberturas e o crescimento vertical, este processo de urbanização auxilia na organização das cidades mesmo dificultando a circulação do ar nos grandes centros urbanos e tomando o espaço das paisagens naturais.
        Mascaro teve um olhar diferenciado sobre as desigualdades sociais entrevistando a elite do país, possibilitando conhecer um pouco sobre o pensamento dos brasileiros que estão dentro de um grupo restrito: O grupo daqueles que observam do alto o sofrimento das classes baixas dentro de um abismo social.

Clique Aqui para assistir ao documentário completo no Youtube)